Seja Bem-Vindo(a)
@Ben Chai
Purim não é apenas uma festa de alegria e redenção externa, mas também um evento profundamente espiritual que reflete processos internos da alma e do universo. Na Cabala, a história de Purim vai muito além do enredo literal da Meguilá de Ester; trata-se de um embate entre forças espirituais opostas e da possibilidade de transformação pessoal.
Hamã representa a inclinação para o mal (Yetzer Hará) e as forças que tentam aprisionar a consciência humana, tanto de forma interna (medos, dúvidas, arrogância) quanto externa (opressões e desafios da vida). Ele simboliza os bloqueios que nos afastam da conexão com o Criador e com a verdadeira missão espiritual.
No Zohar (Volumes 108 e 110), ensina-se que Hamã ficou aterrorizado diante do Rei e da Rainha porque, espiritualmente, ele percebeu que sua energia maligna estava prestes a ser dissolvida pela revelação da luz divina. Esse momento não é apenas um evento da narrativa bíblica, mas um arquétipo do que ocorre quando a verdade e a santidade são expostas – o mal perde sua força.
Na Árvore das Sefirot, o Rei representa as seis sefirot superiores (Chésed, Guevurá, Tiféret, Netzach, Hod e Yesod), enquanto a Rainha representa Malchut, a realidade física. Isso significa que a batalha de Purim reflete uma disputa cósmica entre forças espirituais superiores e sua manifestação no mundo material.
Hamã está posicionado "no meio", tentando governar Malchut, ou seja, controlando a realidade material e impedindo a manifestação do divino. No entanto, quando a luz das sefirot superiores desce sobre Malchut, ele perde seu poder.
Para vencer nossos próprios "Hamãs" internos, devemos expor a santidade e trazer a verdade à tona, canalizando a energia das sefirot superiores para a realidade terrena.
A Cabala ensina que Purim e Yom Kipur estão interligados porque ambos lidam com a transformação dos julgamentos severos em misericórdia. O próprio nome Yom Kipurim (יום כיפור) pode ser lido como "um dia como Purim", sugerindo que, enquanto Yom Kipur é um dia de expiação e introspecção, Purim é a celebração da transformação final.
A estratégia cabalística para derrotar Hamã e qualquer energia negativa consiste em canalizar a energia de julgamentos para a energia de misericórdia. Isso acontece quando nos conectamos com alegria e celebração genuínas. Quando transformamos dinim (juízos severos) em rachamim (misericórdia), o adversário perde sua força.
Purim nos ensina que, assim como Hamã foi desmascarado e destruído quando sua natureza maligna veio à tona, também podemos dissipar nossos bloqueios internos e externos ao:
Reconhecer nossos "Hamãs" internos, ou seja, as forças que nos limitam espiritualmente.
Canalizar energia positiva, agindo com misericórdia, alegria e retidão.
Expor a santidade no mundo material, trazendo luz ao local onde antes havia escuridão.
Transformar julgamentos em misericórdia, por meio de atos de bondade e conexão com o divino.
Purim não é apenas uma história de um vilão derrotado, mas um manual cabalístico de transformação espiritual. O que ocorreu com Hamã diante do rei e da rainha é um reflexo do que acontece sempre que a luz da verdade confronta as forças da negatividade. Nossa missão é canalizar essa energia para nossa própria vida, vencendo os bloqueios e permitindo que a luz divina se revele plenamente.
ARIZAL (Rabbi Isaac Luria). Shaar HaGilgulim: The Gate of Reincarnations. Jerusalem: Yeshivat Shaar HaShamayim, 2016.
LURIA, Isaac. Etz Chaim – A Árvore da Vida. Safed, 2016.
SCHNEERSON, Menachem Mendel. Likutei Sichot. New York: Kehot Publication Society, 2001.
ZOHAR. Parashat Tetzavé, Vol. 2, 108a-110b.
@Ben Chai
Chag Purim Sameach! 🎭